Monday, November 26, 2007

Danças e batalhas...

Cansada da minha épica busca, sentei-me num café ao virar da esquina.
Permiti-me descansar o corpo insatisfeito que te deseja loucamente, permiti que a minha alma serenasse deste formigueiro de ti.
Olhei em volta, qual meretriz que procura um corpo para se deitar e apaixonar... em ninguém te vi, em ninguém te senti.
O teu perfume, o teu calor, o teu toque... cada vez mais longe. Distantes.
Fechei os olhos... respirei fundo... quis ter-te aqui, com toda a intensidade que a minha alma consegue e pode depositar num desejo.
O meu olhar fechado... a minha essência escura...
De repente um brilho imenso... holofotes se acendem ali, na esplanada daquele café invernil. Abro os olhos muito a custo, ofuscada com tanta luz... a tua!
Surpresa vejo-me num palco de rua, mesas, cadeiras, plateia... tudo se afasta e se organiza desordenadamente à nossa volta, a observar o espectáculo. Tu ali... de pé, à minha frente, numa presença forte, inequívoca! Eu sentada naquela cadeira de ferro, dura, fria, que lentamente começa a aquecer entre as minhas pernas, bambas, que tremem por te sentir.
Tu sorris...
Eu abro bem os olhos, depois de os cerrar com força... sim, estás ali! Consigo sentir o teu pulsar no meu corpo, o calor do teu sangue a tocar a minha pele, sem no entanto de mim te aproximares.
A tua fragância de macho invade aquele espaço, eleva-se, dissolve-se no ambiente que me envolve... atrai outras fêmeas, outros machos, que se juntam à plateia e nos observam.
Uma música saída do ipod de alguém começa a se ouvir neste silêncio que provocaste... a batida da música impõe-se, o ritmo sente-se... tu olhas-me fundo no olhar avelã que te ama, prendes-me em amarras invisíveis no trono de ferro que na rua faz de mim rainha. Rainha de ti!
Presa a ti deixo-me estar... e mais uma vez sorris, ciente do teu poder sobre mim e do que se seguirá.
O teu corpo começa a se movimentar, a entrar na cadência da música que se exponencia.
Inicias uma dança lúbrica em torno de mim, numa batalha com o meu corpo... o teu corpo serpenteia, agita-se, suavemente... a tua roupa toca ao de leve a minha pele. Eu sentada, presa... tu solto, livre para me enlouqueceres.
O ritmo da música cresce, o teu também...
Tu sorris.
Sabes o poder que tens sobre mim, sabes que me deixas transtornada de tanto desejo. As tuas mãos sábias abatem-se sobre o teu corpo, tocas-te por cima dessa roupa que te veste, que tu despes. Propositadamente descompassado começas a, um a um, desapertar os botões da tua camisa. Lentamente... sem regras... e danças... e mexes... e tocas-me com o teu corpo que começa a ficar suado... e eu cheiro-te tão perto... e tento tocar-te com os meus dedos de fêmea faminta... e impedes-me de tal... suplico-te com o olhar... uma vez mais sorris.
Ironia dominadora... sorriso propositado... desejo crescente.
A tua camisa completamente desapertada mostra-me o teu tronco... vejo linhas másculas marcadas... num delinear de um corpo moldado para dar prazer. Percebes que te admiro e colas a tua barriga na minha face... danças. Sinto os teus pelos a tocarem os meus lábios, tento beijar-te e foges. Esguio... serpenteias em mim. A minha língua ganha vontade própria... estica-se depois de se humedecer e lambe-te! Toco o teu umbigo, os teus abdominais marcados contraem-se. Em misericórdia encostas o teu corpo em mim e permites que te beije insanamente, prolongadamente... descontrolo-me e mordo-te.
Tu sorris...
Eu devoro-te...
À nossa volta uma plateia excitada observa: um casal começa a se beijar, uma senhora ruboriza, um rapaz senta-se mais perto. Uns agitam-se, outros estáticos deixam-se inundar pelo calor que ali se dissipa. Uma rua parada... porque ali estás tu... porque ali estou eu... porque ali estamos nós entregues às mais animais vontades. Um para o outro, à vista do mundo, fechados numa redoma de prazer egoísta, nosso!
Entreabro as pernas na cadeira de ferro, que se funde na fogueira que ateaste em mim. As minhas mãos deixam de ter correntes suficientemente fortes para as segurar. Precipitam-se para ti, seguram ambas a tua camisa e arrancam-ta, atirando-a para bem longe, levando o teu cheiro para perto de alguém.
Tu danças sem parar... a batida da música não pára... alguém a colocou em loop, como ambos gostamos. Aqui lêem-se pensamentos, há telepatia de vontades... advinhar de instintos!
Abro-me para ti mais ainda, quero que o teu corpo em movimento de encaixe no meu. Toco-te, devoro-te na ponta dos meus dedos, saboreio-te com as minhas mãos! Estas impacientes, num gesto rápido desapertam o teu cinto, correm a desabotoar as tuas calças... uma das minhas mãos ganha espaço para fugir para as tuas nádegas e te puxar para mim.
Tu sorris...
Eu sentada, à altura do teu sexo, com ele duro, imponente, encostado a mim... liberto-o! As leis da gravidade fazem o resto: a tua roupa cai quente no chão gelado da rua, o teu corpo à vista da multidão que se aglomera, incendeia aquele palco. Começam a se ouvir aplausos velados, mais corpos se libertam e se envolvem na dança, outros corpos suados se expõem na batalha. Aquela rua, aquele café, aquela esplanada transformam-se num festim carnal. Cheiro de corpos excitados inunda a cidade...
No meio do espectáculo nós, actores principais, levamos a peça ao seu climax. Tu movimentas-te com mais intensidade, eu abocanho o teu sexo e envolvo-o numa saliva de beijos. Alterno entre danças de língua suaves, com tangos de boca violentos. Toco-te a ponta do sexo suavemente, para de seguida o meter todo, bem fundo, num sufoco de prazer.
À nossa volta ouço gemidos, arfares, todos se envolvem em danças quentes e ancestrais. Corpos gemebundos fazem coro ao amor que ali cantamos, que ali gritamos. As minhas mãos continuam a percorrer o teu corpo, a puxar-te mais e mais para mim. Cravo as minhas unhas nas tuas nádegas, sei o quanto isso te excita. Tu descontrolas o teu corpo, projectas o teu sexo mais fundo e num grito visceral vens-te em mim, inundas a minha boca com o teu néctar... que engulo com sede de mais. Quero mais! Tu percebes e num gesto violento levantas-me da cadeira de ferro fundido, levantas-me a saia, metes a tua mão entre as minhas coxas, afastas uma cueca inundada de desejo e penetras-me com os teus dedos. Invades o palácio secreto desta tua rainha que deixou invadir a sua cidade em danças e cantares inimigos. Em meia dúzia de toques derrubas as minhas muralhas... puxas-me para ti e o meu orgasmo de rendição chega, num descontrolo de quem se entrega depois de uma longa batalha travada.
À nossa volta as gentes desta cidade espelham a violência do nosso espectáculo. A rua inundada de corpos nus, cheira a fluxos e sexos. Espasmos ainda vibram no ar. Tropas que se retiram, a saque ou em rendição.
Olho-te nos olhos profundamente, beijo-te como quem te adormece, tu sorris, eu fecho o olhar. Sinto uma mão na face, água fria nas fontes, alguém que me chama...
Abro os olhos e vejo-me ali, prostrada no chão do café. Meia dúzia de pessoas vestidas rodeiam o meu corpo na esplanada fria, alguém colocou um casaco sobre mim...
Desmaiei...
A batida de uma música toca ao longe no ipod de alguém.
A vida desta cidade segue serena, indiferente à batalha que travei em mim mesma, na ignorância de danças de saudade e vontade de te ter.
Olho em volta... sinto o teu perfume... mas não estás ali.
A minha vida, como a da cidade, segue... simplesmente não serena.

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