Wednesday, November 28, 2007

Epílogo

Vejo-me em cinzas para ti...
Fui o teu cigarro, o teu vício, companheira de longas noites de solidão partilhada, frutados prazeres secretos.
Seguravas-me com mestria nas tuas mãos experientes em vícios semelhantes, que tremiam sem me ter, que serenavam ao me tocar. Amparavas-me com cuidado, delicadamente colavas-me a ti, levavas-me à tua boca, ansioso por um primeiro toque que te fizesse flutuar na ressaca da vida.
Sei que me usaste para teu prazer... eu usei-te para o meu.
Delicioso sair da realidade. Sentir-me desejada, querida, de um modo estranho amada...
Quebrar de rotinas, de paralisias, romper correntes, soltar sentimentos presos, derreter o empedrenido, desafiar o sólido, testar limites.
Fazer arder em nós paixão, incendiar quereres, colorir de fogo desejos, queimar corpos e almas, em lava explodir extintos vulcões.
Tudo isto comigo na tua boca, amparada nas tuas mãos, colada no teu corpo.
Sorvias a minha essência, eu dava-ta de bom grado. O teu prazer era o meu prazer, mesmo sabendo que ao me extinguir, tudo voltaria às frias origens.
Novo cigarro, outro vício...
E aqui estão, as minhas cinzas, ardidas, desfeitas, negras depois do vermelho, em pedaços depois da erecção, indiferentes na tua saciedade.
Descanso por fim neste cinzeiro de ti... epílogo de nós.

0 comments:

Post a Comment