Tuesday, August 14, 2012

Guerra e paz...


Ela vê-o sair bruscamente da cama que partilharam por mais uma única noite. É sempre única. É sempre a última. É sempre um “nunca mais”. É sempre um “até sempre”. Todavia nem sempre se sentem assim efervescentes no amor que os une e na paixão louca que os devora. Nem sempre se navegam em corpos agitados e sem rumo, nem sempre se esgrimem entre beijos sôfregos de saudade e beijos perturbados sem despedida.
Ele chegou nesse dia ao entardecer, a sua casa, com uma desculpa incoerente, só para a ver. Porque sim. Agressivo, com palavras duras usadas como armas, naquela guerra que entre eles se instalou. De início ela rebateu cada som por ele proferido, cada promessa quebrada em disparos verbais. Confronto. Combate. Conflito. Tiros desferidos para acertar no coração e, ainda mais fundo, na alma. Até que, de repente, um “Amo-te!” feriu-lhe fundo o espírito. Foi-lhe gritado entre a saudade e o fogo demente que atearam os dois. Ela quebrou. Derrotada por aquele adversário homem que tanto ama.
Rebolaram ali mesmo no chão, entre roupas esvoaçantes, numa luta de corpos nus, suados da nostalgia que as peles não deixavam mentir. Os rivais, como sempre, transformaram-se em aliados na luxúria, amantes perfeitos e absolutos, que se saboreavam em cada movimento. Ora lento, ora brusco. Ora pacífico, ora violento. Ora suave, ora irado. Sintonia imperfeita que escalava noite dentro, madrugada fora. Penetrações profundas, mergulhos uterinos, êxtases que lhes sugavam a discórdia e onde, juntos, batalhavam pela paz.
Erraram pela casa dela a noite toda, percorreram quilómetros de amor entre tapetes, sofá, cadeiras, mesa e uma cama. E na cama amanheceram. Uma vez mais. Companheiros de contenda, de mãos dadas, que se soltaram no primeiro raio de sol da manhã. A chama tranquila entre os dois evaporou-se devagarinho, a geada de um novo dia acabara de chegar.
Ele, brusco, não aguentou as mágoas que àquele momento irão suceder. Levantou-se, vestiu-se e, sem nada dizer, saiu. Ela ainda lhe atira, entre sono e raiva, a almofada onde ele pouco dormiu. Somente acerta no vazio… É sempre assim. É sempre a última vez. É sempre um “nunca mais”. É sempre um “até sempre”.



Texto escrito para a revista The Printed Blog (nº3), há um ano atrás. A revista não mais foi publicada (crise e afins, a quanto obrigas...) e o texto ficou na gaveta. Está na hora de se dar a conhecer ao Mundo.

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