Ela sente-se do avesso, em reviravolta, com as costuras à mostra. Vazia e flutuante como aquela folha de Outono que cai aos seus pés. A folha plana à sua volta vagarosa, rodeia-lhe o corpo, toca-lhe ao de leve e precipita-se de mansinho para o chão. Pousa em cima do seu sapato de tacão alto, virada ao contrário, com as suas cores vivas escondidas contra o chão cálido de um tardio Verão de Outubro. Ela só lhe vislumbra os veios já sem vida e pulsação, as cores escondidas contra si, numa contrariedade que se sofre rasteira. A folha parece que foi bordada com linha de alinhavo, fraca, que se quebra aqui e ali em pespontos pouco firmes e nada certos.
Hoje aquela folha caída é a sua imagem em fotocópia. Ela é uma mulher quente mas que, nesta estação do ano, se apagou. Apaga-se para dar vida ao que de novo está para vir. Estar do avesso tem o seu papel nos ciclos que a sua existência impõe, uns ligados aos outros, que alargam e engrandecem o espectro das suas emoções. O seu coração está em Outono soalheiro mas amanhã ficará mais frio. Entrará numa hibernação necessária que a fará de novo desabrochar, mais para a frente, em flores bordadas e profusas que o seu homem poderá colher, cheirar e (ainda mais) amar.
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